setembro 11, 2012

Medida 1. Foco no défice e não na dívida


No post publicado a 4 de Julho “O foco errado: na dívida soberana” propusemos uma série de actuações necessárias para sairmos da camisa-de-força a que estamos sujeitos.

Elencamos 9 áreas de actuação.


Vamos desenvolver, neste post, a primeira:

Foco no défice, em oposição ao foco na dívida.

Temos um problema sério desde há já alguns anos. Consumimos acima do que produzimos. Um problema que tem sido “mascarado” por vários subterfúgios. Mas que acabou por vir ao de cima, depois de anos a viver bem (e não sabiamos).

Produzimos menos do que gastamos. E produzimos cada vez menos e gastamos cada vez mais. Para que isso tenha sido possível, recorremos ao crédito. Pedimos emprestado. E assim, construímos um nível de vida de ilusão.

Daí que o ajuste que agora vivemos não corresponde a um empobrecimento. Corresponde apenas ao regresso à realidade. Com uma penalização: aquela que corresponderá ao facto de termos que pagar (ao mesmo tempo que caímos na realidade) pela qualidade de vida (alta e nem nos tínhamos apercebido disso) que usufruímos nos anos de “vacas gordas” suportadas pelo crédito fácil propiciado pela moeda única.

Dentro da moeda única, não há soluções monetaristas disponíveis para cada país, por si (e mesmo que houvessem, ganharíamos eficácia na intervenção mas não evitaríamos nunca um ajuste em baixa) pelo que teremos que ir por outro lado.

A troika está a suportar-nos porque lhes interessa. Afinal, representam os nossos credores que querem vir a ser ressarcidos do dinheiro que nos emprestaram. Mas, dentro da lógica do austerismo, teremos que pagar pela situação. Assim, Passos Coelho (porque Sócrates levou isto a tal ponto que não lhe deixou alternativa) está refém da troika. E o objetivo é criar condições e garantias aos credores para que possam ter alguma segurança de voltarem a ver a cor do seu dinheiro.

O que é errado. E aí, Sócrates terá razão. A dívida que se lixe. Existe para ser gerida e não para ser paga. Simplesmente, isso só será verdade se não crescer mais. E para que isso aconteça, é necessário eliminar os défices. A partir do momento que isso suceder e conseguirmos atinjir os equilíbrios (orçamentais, comerciais e outros) a dívida torna-se – realmente - irrelevante.

Assim, teremos que deixar de ser seguidistas em relação à troika e convence-los (já terá sido mais difícil) de que precisamos de encontrar os equilíbrios, antes de pagar as dívidas. E que esses equilíbrios ficarão mais longe, se o austerismo for longe de mais, se a economia se deprimir, se o trabalho escassear, se o desemprego levar à implosão social, se a exaustão fiscal se instalar.

Mas atenção: nenhuma solução nos pode levar para o lado contrário do problema. Nada de mais dinheiro para “criar ilusões de crescimento” à custa de mais crédito e mais dívida. Nada disso. É necessário dinheiro, APENAS para sossegar os credores enquanto os equilíbrios são procurados e atingidos.

A globalização alterou por completo a visão clássica de que o consumo (e o seu crescimento) potencia a economia e a criação de empregos. A verdade é que isso acontece. Mas, infelizmente, acontece no sítio indevido, provavelmente … na China. Sendo assim, mais consumo criará mais despesa, mais crédito e mais dívida… Numa economia desequilibrada, mais consumo potência a economia boa mas também a má. E sendo esta última preponderante, não poderemos ir por aí.

Assim, antes de tudo, sempre com ajuda externa, “congelamos” a dívida e empenhamo-nos na economia. E nunca, “empenhamos” a economia para (tentarmos) pagar a dívida. Esta é a primeira atitude a tomar. Depois, seguem-se as outras medidas.

Nem podemos ser a “formiga cega”, nem a “cigarra”. Teremos que ser uma formiga alerta e inteligente. E criativa pois, a solução, seja ela qual for, será inédita e terá de ser criativa. As receitas comuns não funcionam porque os problemas são totalmente distintos do que conhecemos. Não há precedentes, precisamos de inovar.

E, finalmente, para aplicarmos com sucesso todas as medidas necessárias, precisamos de verdade. No discurso. De uma verdade que diga, com clareza, que não voltaremos aos bons tempos socialistas, em que o nosso (bom) nível de vida se suportava em empréstimos. Que não voltaremos lá, jamais. Mas que podemos acreditar que estabilizaremos num nível de vida equilibrado ao nível do que produzimos. E que, a partir daí, poderemos passar a acreditar...

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