outubro 01, 2012

Novos problemas - soluções antigas?

Problema novos, soluções inovadoras

Os tempos são novos. 
Os problemas também.
As soluções e os instrumentos para os resolver não podem ser os mesmos de sempre.

Desde os anos noventa que a globalização impôs-se. Sobrepôs-se a ideia que todas as necessidades e todos os problemas seriam acomodados e resolvidos de forma global. A produção seria alocada às zonas onde mais e melhor se produzisse.

Tudo parecia bom. Os habitantes dos países desenvolvidos gostaram de passar a aceder a bens e serviços a preços inimagináveis quando as multinacionais se mudaram para os países (hoje emergentes) onde o custo da mão-de-obra era irrisório.

Com o tempo, desmantelou-se de um lado e criou-se noutro. Mas tudo mesmo. A produção agrícola, a pesca, a indústria, os serviços.

Paulatinamente, tudo se dirigiu para os países emergentes.

Com o trabalho (foi o trabalho que se deslocalizou) seguiu a riqueza, o investimento e o capital. Nos países desenvolvidos ficou o consumo. Mas, cada vez mais, a partir de certa altura, financiado apenas pelo crédito

(é por esta razão simples que as medidas keynesianas não funcionam, pois ao potenciar o consumo, se acentuam os desequilíbrios com o exterior, criando mais dívida - do nosso lado - e mais trabalho ... na China)

As (grandes) empresas subiram de nível. Mais que multinacionais, passaram a ser elementos na nuvem global (é conceito bem entendido no que respeita às redes informáticas e internet). Se as multinacionais estão em muitas nações, as empresas na nuvem estão e não estão em todo e qualquer lado. Materializam-se e desmaterializam-se ao ritmo da evolução dos seus produtos e da aptidão e capacidade de ajuste das suas fabricas. E movem-se, empurradas pelo capital que ali se concentra (onde há crescimento e rentabilidade mesmo), pela proximidade das matérias-primas e pelo acesso a mão-de-obra barata.

Sem produção à altura do consumo (cada vez mais externo), os países desenvolvidos começaram a viver de crédito, reduzidas as suas receitas fiscais e sociais. Sem trabalho (desemprego) e com a pirâmide etária invertida, os custos sociais subiram.

Os défices públicos, por esta razão e por outras (crises bancárias e bolhas especulativas) passaram a pressionar as economias locais por via dos (mais) impostos mas, mesmo assim, não evitaram a repetição dos défices crescentes. E com eles, as dívidas ascenderam a valores inauditos. 

Políticas públicas expansionistas e intervenções de salvação dos sistemas bancários agravaram o problema e multiplicaram a dívida pública.

Antes disso, o crédito (global) fácil tinha criado a mesma ilusão nas empresas e particulares. Onde o consumo e o investimento a crédito também vingou: mais dívida. Pior: dívida ... externa.

Entretanto, a confiança desapareceu e, com ela, os capitais. Esses países passaram a ser “desertos de liquidez”. E perderam a capacidade de financiar os seus défices e, pior ainda, deixaram de conseguir refinanciar as suas dívidas, cada vez maiores.

E assim chegamos aos dias de hoje.

(e não se pense que há países desenvolvidos incólumes pois, desde que haja dívida pública, custos elevados de mão-de-obra - ou alto nível de vida face à média mundial - e não haja fartura de meios energéticos - petróleo -, estarão todos esses países a médio-longo prazo, comprometidos)

Nestes dias, (re)começam a vingar os apelos da esquerda. Na rua. O que, sendo incongruente (afinal foram as suas políticas expansionistas e de resistência ao ajuste no tempo devido que provocaram a actual redução dos níveis de vida das populações) que acentuaram o problema até à rotura e à bancarrota. O que não é de estranhar, face à dimensão dos esforços pedidos às populações para a correcção (e ajustes) em tempo recorde, definido pelos credores - a troika - ávidos pelo seu dinheiro que, sabem eles, estaria muito melhor nos países emergentes onde tudo se move, nos dias de hoje.

A verdade é que esta esquerda pode ganhar peso (e capacidade de decisão) à custa da insatisfação popular sendo verdade (mas talvez imperceptível aos eleitores) que as suas políticas são a anti-solução para os problemas.

Se há novos problemas, precisamos de novas soluções...

Os instrumentos globais não se ajustam. Os mercados financeiros não são recurso para os problemas de hoje. Esqueçamos o “regresso aos mercados financeiros”.

(os mercados financeiros de hoje, aos quais os países desenvolvidos recorrem são uma mentira. Não são mais que os bancos nacionais travestidos de "mercados" a aplicar a "moeda" criada e emprestada pelos Bancos Centrais. A verdade é que depois da Grécia, nenhum investidor livre investirá seja o que for, em dívida pública de países desenvolvidos)

A globalização tanto traz (equipamentos e produtos de muito baixo preço) como leva (trabalho, riqueza, indústria, investimento, capital, liquidez). E nada volta para trás… 

(a natureza da globalização e do mercado global não funciona assim. Tal como os "vasos comunicantes" não fazem fluir a energia de sistemas frios para os sistemas quentes. É sempre ao contrário...)

A globalização é coisa boa. Força a reequilíbrios globais. Leva a riqueza a países onde ela não existia e promove os níveis de vida das suas populações levando-lhe trabalho aonde ele não estava. Mas, a outra face da moeda são os tempos difíceis nos países desenvolvidos, de onde se esvai (devagar no início mas abruptamente depois) toda a riqueza.

As ferramentas da globalização não salvarão os países desenvolvidos. Pelo contrário, apressarão e tornarão violenta a sua queda, caso não se introduzam instrumentos equilibradores, de âmbito e alcance local.

E aqui está o ponto. Aqui estará a solução. Mas tudo é novo.

Passaremos (a ideia não é nova) do global para o glocal. É a importância do local que terá de ser efectivada. Chegou a altura. Ganhando espaço e área de actuação ao global. E impondo-se, mesmo que por decreto.

Se assim não for, tudo se esvairá, naturalmente, dos países desenvolvidos para os países emergentes. É o efeito simples dos vasos comunicantes. E da tendência para o reequilíbrio. Com a energia a passar do quente para o frio, aquecendo o que é mais frio e arrefecendo a origem. Mas, não havendo um “travão” ao processo - natural - de equilíbrio, o ajuste será brutal e a rotura inevitável. E os exemplos estão aí...

Inove-se. E retarde-se.
Não se pense que não podemos inovar. Ou que o estado calamitoso a que chegaram alguns países impede que aí se façam experiências. É que, infelizmente, os “remédios” conhecidos já não actuam… ou há novas soluções ou o mundo será, bem mais depressa que poderíamos pressupor, chinês.

E qual a inovação necessária?

Resumindo:

1)Reconhecimento da situação gravíssima que os países desenvolvidos vivem.

2)Eliminação total dos défices públicos (programa para 5 anos).

3)Definição de tectos (% PIB) para os impostos a cobrar.

4)Eliminação de todos os impostos sobre o capital (para que ele possa voltar a fluir).

5)Eliminação total de todos os impostos sobre rendimentos.

6)Erradicação do financiamento da Segurança Social dos custos de produção.

7)Resta apenas o imposto sobre o consumo, a partir do qual toda a acção pública se financiará.

8)As despesas sociais passarão a ser dinâmicas (sim, também as pensões e subsídios vários), ajustando-se às receitas recolhidas pelo que a solidariedade pública será proporcional à riqueza produzida pelo País e nunca poderá ser garantida por empréstimos.

9)Redistribuição do trabalho (ainda) restante, flexibilizando a jornada de trabalho para até menos 20% com ajuste remuneratório proporcional garantindo menos subsidiados, mais contribuintes, maior paz social e possibilidade de ajuste (do pessoal à procura - menor) de empresas de serviços locais que assim evitam a falência.

10)Saneamento dos bancos, com medidas de salvaguarda do crédito e mercado imobiliário e procurar atractividade e segurança (nos bancos nacionais) para a poupança interna (hoje, tudo se esvai para o exterior, face aos canais comunicantes globais dos mercados financeiros).

11)Criação de novas fontes de financiamento público para os 5 anos de ajuste, sem contar com os mercados financeiros globais, incluindo os bancos que actuam a esse nível (global). É aqui que entram os novos Títulos de Dívida Fiscal. A conhecer aqui a proposta.

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