novembro 02, 2012

Refundar é preciso

No jornal i de Quarta Feira, dia 31 de Outubro, o Editorial "Os socialistas, a troika e o Estado Social" de Luis Rosa contrapõe-se com uma coluna de opinião de Pedro Nuno Santos "Quando refundar é desmantelar". Dois pontos de vista que preenchem, quase totalmente, o espectro nacional da opinião pública e publicada sobre o futuro próximo.

A verdade é que temos um governo, pressupostamente de direita e comprometidamente pró-liberal que ali chegou com um propósito de acção traduzido num memorando de entendimento negociado com os predecessores socialistas.

Note-se bem que a "porcaria" foi feita por outros; o diagnóstico e o tratamento preconizado também; e estes estão lá a tentar remediar essa "porcaria", que nada tem de simples.

Estão a fazer mal? Até posso concordar. 
Mas qual é a alternativa em concreto? Zero, nada. 
Ninguém avança. 
Cobrar taxas sobre capitais que, no minuto antes da cobrança colocam-se longe do País? Estão a brincar connosco. 
Renegociar uma dívida que já foi negociada e se traduziu naquele ... memorando?

"Queremos a nossa vida - anterior - de volta". É a ilusão mantida.

Austeridade não.
Então o quê? Crescimento...
Austeridade não.
Então o quê? Renegociação da dívida...
Impostos não.
Então o quê? Redução das despesas...
Estado Social redimensionado (em baixa) não.
Então o quê?
O quê?... 
Nada...

1)Vivíamos com 120. Produzíamos 100.

Vivíamos bem (e não sabíamos) à conta de empréstimos. Que se acumularam numa dívida.
Desapareceram os que nos emprestavam para podermos viver daquela maneira.
E aí, passamos a ter que viver com 100. 
Com 100? Nada disso. 
Pois os credores (ou a troika, como quiserem), a quem devemos foram claros: ou passávamos a viver com 90 para que pudessem sobrar 10 todos os anos, para lhes pagarmos gradualmente o que lhes devemos ou então, cobravam-nos a dívida toda de uma vez...

2)Logo, tivemos mesmo que passar dos 120 para os 90...

Queremos manter tudo o que tínhamos antes? O Estado Social de Sócrates e dos socialistas?
Tudo bem. Vamos tentar: 
Esse Estado Social custava 120. Agora temos 90. Como fazemos? 
Aumentamos os impostos... Não? Então, como é? 
Reduzimos as despesas do Estado. Ok. 
Mas, as despesas do Estado são (em maioria) os custos com o tal Estado Social. 
Então, reduzimos o Estado Social. Não? Não! 

3)Então...

Então, como é? Simples. Austeridade não. Crescimento é que é. Temos que crescer.
E como crescemos? Não há sugestões? Nada.

Então como é? Simples. Austeridade não. Renegociámos a dívida. Mas com isso poderemos viver com 120? Não. Teríamos sempre, no mínimo, que cair para os 100.

O objectivo imediato e realista é garantir que o ajuste em baixa (sim é decrescimento, sim é menor nível de vida) é controlado e gradual. Dos 120 para os 90. Evitando que se acabe por cair para os 80 ou 70. 

Mas não podemos pensar que cair dos 120 para os 90 é reduzir níveis de vida em 25% (30 em 120). Não é. Vamos supor que uma família, uma empresa ou uma autarquia tinha 120 de rendimento. E 85 de custos fixos. Antes, sobravam-lhes 35 para outras despesas variáveis. Agora, sobra-lhes 5... 
A família, a empresa, a economia que funcionava sobre esses 35 sobrantes como fica? 
De rastos. Falências, desemprego, miséria.

Mas a realidade obriga a que se entenda e interiorize com clareza que o ponto de saída desta crise fica situado bem mais a abaixo em relação ao ponto de entrada (que se suportava em empréstimos). 

Vamos ter que ajustar às nossas possibilidades (-20%) e ir ainda mais abaixo para pagar os os juros e as amortizações da dívida pendente que, recorde-se, foi o sustento da nossa qualidade de vida nos últimos anos. Não criamos essa dívida (sim, foram os governantes socialistas) mas usufruímos dela (através de trabalho, negócio, subsídios, serviços públicos, emprego). E as dívidas pagam-se.

Como não vamos crescer, todos os pressupostos que os economistas costumam colocar no terreno, baseadas no crescimento, são falsos e as suas medidas condenadas ao falhanço. Não dá ir por aí. Mas também não dá para ir pela austeridade simples (aí tudo morrerá, antes). E a verdade é que não se encontra qualquer alternativa à esquerda. Tudo o que dizem, tudo o que falam só iria cavar mais fundo o buraco em que (essas políticas) nos meteram.

A alternativa é liberal (este governo ocupa essa zona ideológica mas actua à esquerda, talvez porque confinado a um memorando "socialista") mas é, também, social. E não há como evitar o ajuste em queda, na redução dos 120 para os 100, no mínimo. E, para isso, é necessário REFUNDAR e redefinir o Estado. E o Estado Social, também.

Definir áreas de intervenção prioritárias (e largar outras).
Naquelas, restringir zonas de acção.
E no que sobra, maximizar a produtividade e cobrar o máximo sobre o que faz, contendo tudo aquilo que tenha de ser financiado por impostos.

O Estado Social tem que deixar de ser suicida (pode acabar se se mantém nos termos actuais) e passar a ser sustentado.

Precisamos de PROGRESSISMO, uma economia pró-liberal com uma "almofada" social sustentável. O Expresso de Sábado publicou a opinião de Martim Avillez Figueiredo. Gostei. Temos que ir por aí. Procurar e encontrar soluções novas para problemas novos. Que existem e não estão, forçosamente e ainda, sobre a mesa. Vejamos alguns textos:

http://notaslivres.blogspot.pt/search/label/Alternativas

http://existenciasustentada.blogspot.pt/

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