março 11, 2014

Manifestos cigarra

A estoria da cigarra e da formiga é de conhecimento geral e simples entendimento. Todos reconhecem a relevância da sua moral: o futuro é incerto pelo que temos que trabalhar para ele e nunca viver à sua custa.

Mas, então, porque não se consegue que esta moral seja reconhecida e dada como boa, quando se aplica a Países e á sua economia e gestão pública?

Não se entende...

Restruturação da dívida: é um manifesto cigarra. Pedimos emprestado em determinadas condições. Assinamos por baixo. Agora, dizemos que não pagamos ou que pagamos menos? Parece simples, mas a verdade é que o resultado é ainda mais: quem nos empresta deixará de o fazer. E nós (as cigarras) como ficamos? Quem fará negócio connosco depois disso? Quem nos venderá a energia que não temos? E tudo o resto que não produzimos? Ninguém...

Crise: dizer que estamos em crise é um lugar comum. Todos sabemos que estamos em crise. Certo? Errado! Não estamos em crise. Estamos em ajustamento. Não vamos voltar ao ponto inicial e ainda há que continuar a ajustar. Ajustar o quê? Simples: ajustar a despesa à receita. Equilibrar as contas. Gastar hoje apenas o que temos (défice zero). Gastar mais do que isso obriga a empréstimos e o resultado é que (quando chegar a altura de pagar) teremos menos riqueza disponível. Infelizmente, este futuro é já o nosso presente.

Austeridade: estamos a viver um momento de grande austeridade. Mais um lugar comum. Pois. Mais um lugar comum errado. Como austeridade se nem conseguimos, ainda, viver com o que produzimos? Cada um vive com o que produz. E viverá melhor ou pior consoante o que tem e como gasta o que tem. Ora temos vivido acima das nossas possibilidades. Agora, passamos a viver abaixo delas (pois é preciso pagar o que gastamos a mais, nos anos – cigarra – anteriores). Vivemos em austeridade? Então vai ser por muitos anos. Pois ainda nem chegamos ao ponto de equilíbrio: o Estado gastará, ainda, no final de 2014, 8% acima do que tem. E quem lhe tem garantido essa possibilidade? A troika. Emprestando a diferença (o défice) necessária. Troika rua! Ou: obrigado troika...

Crescimento: podemos gastar mais do que temos pois o crescimento económico permitirá pagar o excesso de gastos (o défice) de hoje. É a conversa “cigarra”. Ora, não vai haver qualquer crescimento económico. O mais provavel é que aconteça o contrário. Há muitos (demasiados) países pelo mundo que têm vantagens económicas susbstanciais face aos países desenvolvidos. Para lá vai a produção, o trabalho, a riqueza, o crescimento...
Pelo que o ajuste vai continuar e terá que ir até ao défice zero. Depois disso sim: poderemos passar a “gerir” a dívida. Pois dívidas, como diria o “pai de todas as cigarras”, não se pagam. Gerem-se. O que não é mentira, caso o défice seja mesmo nulo.

Estado Social pré-definido: é a verdade mais verdadeira do povo “cigarra”. São os direitos adquiridos, as conquistas de abril, o dinheiro dos ricos. Ora, o estado social não tem a dimensão determinada pela constituição. Nem pelos Robins dos Bosques deste mundo. O estado social é a redistribuição de uma riqueza que existe e é produzida. Pela economia que, para isso, não pode estar (fiscalmente) pressionada. Se não, essa economia, essa produção, esse trabalho, essa riqueza vai procurar outras (e melhores) paragens...
A ideia “cigarra” que se pode manter níveis sociais sobre empréstimos do exterior é de fazer rir (ou chorar). Essa ideia é egoísta e delapidante. Mais estado social hoje, à base de empréstimos é menos estado social amanhã pois, nessa altura há que ajustar e pagar esses empréstimos. E será que a juventude espera por esse amanhã em que trabalhará por nada para pagar o estado social de hoje? Não. Infelizmente, esse amanhã é já hoje, em Portugal.


Preocupações: Desemprego, Demografia, um Estado Social sustentavel. Um Estado a redimensionar, um novo sistema fiscal, uma Justiça renovada.

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